sábado, 9 de dezembro de 2006

O início da Saga.


Agonia. Versos empilhados e uma dor latente de cabeça. Um transeunte lhe chamava a atenção, ao andar lá embaixo do prédio, na calçada. Andar? Não...melhor ficar no parapeito, debruçada, olhando os passos do homem na calçada. Sabe, nunca havia reparado que aquele homem vivia nesse prédio!

O homem andava, apressado. O que será que pensava neste momento do dia? Já se passava das 13:00, o calor do dia parecia entranhar no espírito. Era um homem careca, de meia idade, cabelos grisalhos que carregava uma pasta de executivo.

Helga o seguiu com o olhar, menos que com a curiosidade. Novo morador? O que estaria pensando nessa hora, com seus passos largos e apressados? O que haveria naquela pasta? Papéis, sonhos entrelaçados? Pedaços de burocracias de um cotidiano vazio? Não tinha tempo pra conjecturas. 

Subitamente Helga lembrava que estava num parapeito. Que seu coração batia descompassado, que os segundos pareciam milhões de horas, mas eram apenas micronésimas fatias do tempo. Então, neste ínterim, pensava. Recordava de sua breve vida, planejava seus últimos instantes e sentia seus olhos marejados transbordarem em lágrimas que escorriam lentamente pela face ruborizada. 

O condomínio era dividido em quatro blocos: Edifício Lucas, Edifício Liberdade, Bloco D o último bloco, que na verdade não tinha apartamentos: era uma área de lazer, com piscina e sala de jogos. A visão do primeiro edifício era voltada para um horizonte maravilhoso, enquanto o segundo tinha vista para o prédio anterior.

Sendo assim, Helga observava o horizonte, as tardes e a rua, suas conjecturas e o parapeito. Eugênia observava Helga de um dos melhores ângulos que se poderia imaginar: os apartamentos ficavam exatamente um em frente ao outro, de tal forma próximos, que era possível ouvir os sons produzidos pelos vizinhos. 

Eugênia pensava interiormente que chegava a sentir o hálito da moça dependurada, tal era o pânico que começou a sentir em ver aquela situação em que não daria tempo de intervir, perguntar, concordar ou refutar. Então, em seus minutos controversos, apenas observava, sem conseguir prever os próximos instantes, apesar da intuição alertá-la de que algo estranho estava por vir. 

Problemas da construção antiga, ainda da década de 1950, quando o condomínio foi projetado, para ser totalmente construído apenas quinze anos depois, pelo Senhor Lucas, dando origem ao nome de um dos prédios.

Inicialmente a curiosidade era apenas pela estranhez da moça. Eugênia gostava daqueles olhos claros, verdemente imponentes, contrastando com o rosto primariamente angelical.  E ao observá-los tal diferentemente postos naquele andar do prédio, inclinados, entrou em transe, como se fosse hipnotizada por um pedido que talvez fosse de socorro e talvez fosse somente de alívio, por ter alguém a fitá-los. 

Helga não se conteve a observar de longe seu objeto de análise. E se fosse apenas um visitante do prédio? Certamente que poderia não mais voltar e daí...curiosidade! Que haveria por trás daquele homem careca que lhe chamava tanto a atenção? Ou seria impacto? Mesmo à distância era um homem de impacto. Chamativo, talvez imponente. Interessante? Nem tanto. Ou talvez. Não tinha certeza. Mas gente,  era só um homem! E ela era só uma mulher num parapeito. 

Diante da dúvida, mudou o cenário e correu a perguntar Seu Eusébio a respeito do senhor, sem obter grande êxito. A descrição era muito vaga, a intimidade entre ambos, pequena e ainda restava saber de onde viera o homem e por onde entrara. Seu Eusébio apenas velava a paz do condomínio. Embora comunicativo, se atinha apenas às pessoas que lhe cumprimentavam, às feições dos rostos e à tranqüilidade do lugar.quem não respondia "bom dia" era só um ser imaginário e disforme, que poderia pertencer ou não àquele espaço. Até os porteiros divagam, pensou. E mudou de assunto. 

Helga seguiu caminhando. Como não obtivera informações, voltou à sua tranqüilidade, ou como ela mesma descreveria, ao seu encorujamento de sempre. 

Já Eugênia chegava, com sua mania avassaladora procurando por Marco. Escuta, aquele dia que nos falamos você passou a tarde no apartamento da morta?

Passei...

Mas, em busca de que, amora?

Em busca de informações, Eugênio. Ora essa! A menina morre, inquilina nossa, ninguém sente a sua ausência, você não acha estranho?

Bem...ela não suicidou?

Eu não acredito nisso.

A polícia concluiu isso, doce..

Era uma moça jovem, bonita... solitária, mas... penso que não chegasse a tanto.  E outra: com toda a habilidade que tinha de ficar em pé no terraço, e nós a vimos por diversas vezes, você sabe disso, por que cargas d’água ia resolver de morrer daquele jeito numa segunda feira? Pensa bem, Marco... é uma forma de suicídio muito dolorosa...  E outra coisa: tantos dias da semana, por que logo uma segunda-feira? A menina se espatifou toda. Não sobrou osso que não tivesse quebrado! Ai, Deus! Se fosse filha minha acho que estaria hoje aos cacos. Devemos é rezar pela alma dela. 

Está ficando religiosa agora?

Não, você sabe que sou prática. Mas num caso desses... bem, e leve em consideração que eu gosto dela. Gostava, aliás – se bem que ela morreu e meu gostar é o mesmo. Talvez aumente, sei lá...

Deixe que os mortos enterrem seus mortos, Eugênia! 

Pois por mim não se fala mais nisso. E foi fazer a janta dos dois.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Dúvidas...


Passei a visitar aquele apartamento sempre que possível, embora achasse que certas marcas intocáveis de antes deveriam se manter assim – estáticas, sem o incomodar da minha presença.

Notei solas de sapatos de homem. Será que outra pessoa tinha a chave do apartamento? E se quisesse roubar alguma coisa? Bem, roubar uma morta?

Cantei uma canção:

Dorme, dorme, menininha...

Hã hã hã hã...


Sem Bicho papão e estas crenças autodestrutivas do nosso país...E se ela fosse alemã de verdade?


Adormeci, na mesma instância do dia anterior....ouvindo a canção da minha costumeira passagem.

Seria preciso dormir toda vez que quisesse inspiração pra “Saga de Helga?” Sim, o livro corria de vento em popa, a editora me cobrava todos os detalhes e sempre que passava a vista naquele apartamento as idéias brotavam, autenticamente e de forma automática. As minhas visões eram freqüentes, a menina parecia viver ainda naquele apartamento, como se nada...

Ouvia seus passos, seu barulho no chuveiro, sua voz cantarolando entre os cômodos...uma vez ouvi até uma briga. Parecia uma briga, mas com quem, se ela vivia sozinha?

Algum vizinho incomodado com o piano?

Das Constatações de Eugênia

( antes no primeiro captulo que no último.)

Não resolvi escrever sobre Helga indiscriminadamente...

Resolvi escrever assim, meio que por saudade, vontade, impulso de mim mesma. Desenterrar uma história de algum lugar profundo e ainda não desvendado dos meus humildes mistérios...


Mas ela foi tomando forma, criando pernas..de tal forma que em alguns momentos fica complicado definir se faz parte de mim ou dela mesma toda esta narrativa.

Helga está morta, e não há nada que mude isso...
nem meu sofrimento por não poder ter descoberto todas estas coisas que me assaltam agora; nem a minha incompreensão de mundo.

E essa mãe que não reclama pelo defunto, meu Deus?
Um mês....
um mês, sem missa de sétimo dia, sem visitas e flores?!? acho que deve ser incumbência minha encaminhar sua boa alma ( caso se comprove que ela não é suicida!) e rezar pelo seu profundo...desenlace.

Helga não me deixa dormir, senhores. Helga não deixa de ser um mito e talvez pedaços da minha loucura. Helga e sua morte prematura. Helga e suas saudades....

Eugênia de Castro. Eu - monstra de Castro, moradora do Edifício Liberdade e prisioneira de mim mesma...

A tarde do terceiro dia


Helga estava concentrada em seus problemas, em sua carne, em sua solidão vadia. Cansava-se. Cansava-se constantemente dos gritos que lhe doíam a alma, por dentro e eu já não sabia mais se aquela era a minha dor verdadeira, ou a de Helga. Também, conjecturar por quê? Tanto fazia. É certo que eram uma dor e uma solidão parecidas.

Até então não me passava pela cabeça a sua origem. Sabia que Helga era uma moça de mais ou menos uns 23 anos, cética, não religiosa, sem amigos e estranha. Helga e seu estranho hábito de ficar no parapeito da janela, debruçada, quase à vista do semáforo. Helga e suas circuladas pela madrugada acendendo tudo quanto é luz na casa. Eu do prédio da frente, vivenciando cada passo. Eu nessa minha fissura pelos acontecimentos. Quanto mais sabia menos sabia. Aquela filosofia estranha, tantas dúvidas. É como se fosse uma irmã mais nova, uma prima muito próxima, que só aprendi a amar depois de morta. Helga e seu corpo esbugalhado da morte.

Então, me vem à cabeça: o que será que se tem depois da morte? Sim, porque enquanto uns dizem que tudo acaba, outros revelam que pode ser aí um novo começo. Eu não digo nada, na minha sagacidade. Eu sou uma escritora maluca, cética, mas pensativa e racional. Deixemos esta idéia de morrer de lado.

Helga anteontem tocava uma melodia tão doce...depois tão triste. Não sabia que Helga tocava, até ouvir aquele piano chorar, diante da noite. Sempre à noite as coisas aconteciam naquela casa. E eu muitas vezes me perguntava se se morria de dia e se nascia na madrugada. Ela era muito estranha. Mas nesse dia teve também um saxofone. Um saxofone, instrumento pelo qual eu fora apaixonada na minha juventude, e que agora evocava medos e tragédias na minha cabeça. Dentro dos meus silêncios aquela música não me tirava da janela. Sim, eu que me achava sem luz pra escreve, agora tinha uma imensa história. Um quebra-cabeças. Uma briga. Uma personagem viva, mesmo depois de morta. Mais viva depois de morta, aliás; porque eu nunca soube destas coisas.

Piano era uma das minhas grandes paixões de menina. Piano, poesia e amores. Todos andavam interligados na minha mente, e nas minhas saudades.

Minha avó com aqueles dedinhos salientes e frágeis...tocando...tocando! ai, que saudade. Minha avó, companheira de todas as horas... Helga parecia-se muito com ela. O mesmo cabelinho louro, os mesmos olhinhos esverdeados... A mesma incógnita na minha cabeça sobre o que pensava. Isso porque nunca uma ouviu falar da outra. Isso porque Helga, por mais perto que morássemos, nunca ouviu falar da minha vida que não fosse pra dizer aquele bom – dia amarelado. Mal sabia ela o quanto eu a observava, obstinadamente. Interesse científico ou poético, quem sabe. Poderia ser a filha que eu não tive. Poderia ser a irmã- saudade. Hoje preferi que ela fosse apenas a minha obra - prima, uma página nos meus escritos confusos.

Aquela era a tarde do terceiro dia. Havia três dias daquela cena horrendamente Azevediana na minha mente. Acabo recordando o spleen. Nunca fui achegada à segunda fase do Romantismo, apegada a esses termos tão obscenamente pintados na tela dos meus dias desde aquela tarde fatídica. Sei que neste terceiro dia eu ainda me esforçava pra lembrar os olhares da minha luneta. Mesmo antes dos ocorridos já havia planejado Helga como meu laboratório, antes por sua indiferença de comportamento que por sua complexidade. Eu estive enganada, embora não pela escolha, mas por minhas constatações sem análise.

Decidi subir ao apartamento da minha ex – inquilina. Como não havia parentes, amigos ou qualquer pessoa que reclamasse seu corpo, decidi eu mesma enterrá-la no jazigo da família, numa cerimônia decente. Convidei um pároco que me atendeu de prontidão, disse que se tratava de moça muito amiga e nós dois prosseguimos com a cerimônia, triste, fúnebre e despovoada. Não é todo dia que se cai de um prédio daquelas alturas. Nem é todo dia que...

Pedi a chave pro seu Eusébio, que estava à porta de casa. Atendeu-me prontamente, apenas pediu-me que o esperasse por uns segundos. O prédio parecia agora um lugar tenebroso, com suas paredes descascadas e saudosamente brancas. Hoje um branco...

Obrigada, seu Eusébio, vou lá ver se há alguma coisa de valor, ou se encontro alguma informação sobre a família da menina. Deve haver algum parente, amigo, conhecido, namorado... O que o senhor acha?

Bem, minha filha, faça isso mesmo. Talvez ainda não viram o acidente pela tv, talvez a mãe esteja até preocupada com a moça. Eu estarei aqui na portaria, qualquer coisa me chama.

Obrigada, obrigada..

E fui-me, certa de que lá haveria alguma coisa interessante. Sentei-me ao sofá macio e branco. De uma alvura que só uma pessoa que mora sozinha poderia conservar. O apartamento era mobiliado com um requinte único. O que me chamou a atenção foi uma obra de arte: um quadro de mais ou menos parede inteira de medida. A sala era ampla e arejada, e fora tomada pelo quadro. No meio, uns rabiscos, umas pichações, uns dizeres... Ao centro uma mulher, de bela face e olhos esbugalhados. O cenário de fundo era uma cidade que eu não conhecia. Mas o mais interessante foi a assinatura do canto esquerdo do quadro: Helga Herbelein. Era ela então, uma artista?!? Artista plástica ainda? Custei a acreditar. Entrei no quarto, era uma infinidade de tintas. Cores ainda frescas e recentemente escolhidas. Provavelmente sua última pintura fora algum traço daquele quadro. Imaginei que o desenho fosse uma forma de expressão doce da menina, o que me atraiu inteiramente. Sim, poderia ser que ela se tivesse o hábito de se entreter desenhando, pintando e ouvindo. Liguei o som, como que por um impulso e qual foi minha surpresa: a música da véspera! Melodicamente tocada ao piano por mãos ágeis, amáveis e sofredoras. Sim, pois que havia muito sentimento naquele concerto profundo. Tanto sentimento que mais uma vez quis ser Helga para reproduzir aquela música que já eu amava, e para pintar aquele quadro inacabado.

Foi então que me veio à mente a idéia mais absurda dos tempos: e se eu também pintasse aquele quadro? Idéia mais sem propósito, aliás, porque a pobre da artista dona daquele desenho jamais voltaria pra reclamar seus direitos autorais. Eugênia de Castro e Helga Herbelein, criador e criatura assinando pela mesma obra.

A música ensurdecedoramente me consumia. Pedi ao som que a repetisse quantas vezes me fosse possível ouvir, até que eu adivinhasse os pensamentos de Helga naquela data.

O cheiro de tinta era absurdo. Absurdo e frágil, diante da minha vontade. Absurda e frágil era minha consciência... Remexi nas tintas, mas não tive coragem.

Percebi que Helga era uma garota romântica, frágil; porém de personalidade forte. No centro do quarto uma foto imensa da menina, talvez com uns 15 anos de idade. Depois, uma foto pequena dela mesma - com a idade da sua queda: praticamente idênticas e na mesma posição. Os mesmos olhos tristes, mesmo com aquele sorriso enorme estampado no rosto. Seria uma menina triste enquanto viva? Incógnitas que talvez não saberei explicar.

Deitei-me na cama e ainda pude ouvir, ao longe o sonido da música tocando. Mas o sono foi me tomando, me tomando...sono...so no...só.. no...

Zzzzzzz

Helga estava com uma túnica branca e uma calça esverdeada.

Acordei como se ainda a visse, acenando em minha direção. Um aceno meigo, como se me pedisse que ficasse um pouco mais no apartamento. Fui embora apressada, já se passara muito tempo da minha saída. Marco acabava de chegar de seu trabalho, entretive-me com meu marido e guardei Helga no meu álbum de saudades. A chuva chovia como que para apagar a música do apartamento.


domingo, 19 de novembro de 2006

1. Epílogo - Ausência da poesia


Era um dia como os outros, porém nada saía no papel. Nada mesmo, nem um rascunho, nem uns rabiscos. Letras, nada. Nem versos. A angústia predominando no recinto abafado. Músicas repetidas, pra confundir a cabeça e uns ruídos estranhos do outro lado da janela.

Era um desses dias cinza, em que as cores ficam encroadas em si mesmas e desistem de sair. Até o céu parece menos cintilante. E o sol parece se envergonhar de sair com todo esse brilho. Por conta disso, as pessoas também ficam mais distantes e se qpresam com seus cotidianos sem tempo pra observar as coisas simples e importantes da vida. Os detalhes parecem ainda menos evidentes e os sons parecem abafados ruídos. É neste cenário que se localizam todos os personagens desta narrativa. Numa não- localização histórico geográfica. Num dia qualquer de uma cidade em que não há tempo de cumprimentar o vizinho, porque o tempo nem é efêmero, chega a ser líquido (ou talvez até volátil). 

Diante de toda essa loucura vespertina, de repente começou a observar uma moça de olhos claros que se encontrava em cima do prédio vizinho. Embora do outro lado da rua, dava pra sentir o pulsar de seu coração descompassado e antever o teremor de seus olhos diante do prelúdio. 

Obviamente não dava pra ver que ela tinha olhos claros, mas Eugênia sabia. Tratava-se de Helga Herbelein, a vizinha estranha ( na verdade, inquilina), que se mudara pro prédio da frente há algumas semanas.estranha, misteriosa e de poucas palavras. A certa altura, parecia que suas sardas denunciavam, cada uma delas, um evento interiormente vivido. 

 Helga tinha o estranho hábito de subir no terraço e ficar na ponta dos pés, como se testasse a gravidade. Muitas vezes achei estranho aquele hábito, mas... Hoje parecia exagerado. A gravidade parecia atrair os pés de Helga até que...

Meu Deus, ela está despencando!!!

Eugênia não acreditava na cena, que ao mesmo tempo que parecia passar diante de seus olhos em slow motion, era de uma rapidez inevitável e frustrante. Não havia nada o que fazer por aqueles olhos assustados de pavor que pôde ver antes vidrificados e depois estralados no chão. 

A queda foi traumática, estilhaços do corpo se espalharam pelo quarteirão inteiro. Dali, da janela, só era possível saber da queda, do poder da gravidade, na imprevibilidade da vida e da inevitabilidade das coisas que nos acontecem diante dos olhos.  Não deu nem pra ver se alguém a empurrou, se ela havia escorregado, se foi suicídio....nada. Apenas cacos, agora, de Helga em cada milímetro de calçada. Cacos e um sangue talhado. 

Eugênia nesse instante era tomada pelo sentimento de impotência misturado com a culpa de não ter feito nada. Sentir-se única e solitária, vendo a cena torpe lhe esvaindo pelos dedos, mudando sua vida para sempre, da condição de figurante a espectadora. E de espectadora a protagonista, como se seguiria adiante. 

Os vizinhos começavam a se estapear, bisbilhotando o cenário. Eugênia, diante de tantos sentimentos turbulentos e confusos,  deixou-se cair na poltrona do sofá, apenas. Não conseguiu mover milímetro algum de si mesma pra conferir se a barbárie que se apresentava aos olhos era verdade ou ilusão de ótica.  Lágrimas. Autopiedade, uma sensação de injustiça e infelicidade, porque a inspiração agora lhe atacava violentamente. Sim, havia muito o que escrever, mesmo que fossem fatos surreais, e histórias trágicas. E escrever sobre o que há e não sobre o que se pensa pode ser muito doloroso. Apesar disso, escrever era um fato que lhe saltava pelas veias e se qpossava se seus dedos, quase como pensamentos psicográficos. Talvez escrever fosse a única coisa que lhe restava, diante de tudo o que é efêmero e também sobre o que é perene. 

Dias depois e a não pacata  cidade passa a ser palco das elucidações acerca da pobre Helga. Um bilhete caído no chão do apartamento, pés de homem cravados no tapete da sala, cartas misteriosas chegando na casa de Eugênia, pedindo que tomasse cuidado, porque aquilo não era caso dela. Estranhos acontecimentos passam a povoar a cabeça de Eugênia , atormentando suas idéias. Fatos ora surreais, ora imaginários, ora dignos de análise policial ajudarão a desvendar os motivos que levaram Helga Herbelein, a estranha moça, a cair do prédio de 18 andares naquela tarde de novembro.

sábado, 18 de novembro de 2006

Em Construção

Por gentileza, aguardem!!
estamos ainda em construção para melhor trazer a vcs esta história interessantíssima!

Abraços a quem é de abraço e beijos a quem é de beijo!